quarta-feira, 24 de abril de 2013

Vida interessante

Já vi essa passagem postada várias vezes no mural dos amigos mais diversos. Preciso admitir que, à exceção de não ficar assustado com a passagem do tempo e de tosar o cabelo (pelo simples fato de que me sobram pouquíssimos!), faço rigorosamente tudo o que está descrito aí. Chega a ser espantoso: minha última viagem, essa de agora, se concretizou com passagem só de ida (vinda)! Mas devo admitir que não acho - nem nunca achei - que sou uma pessoa com vida interessante! Alguns poderiam dizer que tal sensação é reflexo de uma possível baixa autoestima. Quero crer que se deve mais ao fato de que nós sempre tendemos a julgar mais interessante o que usualmente não somos capazes de ter ou fazer, seja por falta de tempo, coragem, paixão, disciplina ou por qualquer outro motivo - nobre ou nem tanto. Para mim, pessoas com vidas interessantes são aquelas que seguem acreditando em si mesmas, a despeito de todas as dificuldades. O processo é longo e árduo, mas, afinal, quem disse que seria fácil ter uma vida interessante?

O mesmo dilema de sempre

Sou um caso raro: não tenho a mínima vontade de sair, mas, se saio, não tenho a mínima vontade de voltar pra casa.

Atitude é isto!

Você volta para casa, morrendo de fome e sede, num imenso mau humor, depois de um dia extenuante. Apanha o metrô, que está especialmente cheio, e tem que seguir em pé no vagão. Como consolo, à sua frente está sentada uma mulher linda, daquelas que merecem cada um de todos os olhares que atrai. Ao percebê-la, você se posiciona num lugar estratégico onde possa admirá-la tranquilamente, por sobre o livro, sem parecer mais um daqueles maníacos. Afinal, a viagem não precisa ser assim tão incômoda. O trem pára numa estação onde entra um senhor mais velho – ou melhor, muito mais velho – e não muito atrativo, para não dizer feio, muito feio. Por obra do bom acaso, cedem-lhe o lugar fora da área destinada a idosos – o que não é normal por aqui – e ele senta-se justamente do lado da bela. Mal se acomoda no assento, saca um celular antigo do bolso e o entrega à moça, dizendo palavras ininteligíveis. Essa, educada e prontamente, retira os fones de ouvido, pega o telefone e pede para que ele repita o que havia dito. Resolvo prestar atenção e acabo por ouvir a coisa mais insólita dos últimos dias:
- Você pode fazer-me o favor de apagar todas as chamadas feitas e recebidas nesse aparelho? É que tem uma jovem ligando-me insistentemente e minha esposa não confia em mim... Assim, gostaria de apagar tudo, mas como não sei fazê-lo...
A moça, num misto de admirada e polida, faz conforme o senhor lhe havia pedido e devolve-lhe o celular. Ele segue explicando:
- Ela não pára de telefonar-me; já me ligou mais de doze vezes. Como vou explicar à minha mulher?
Chega minha estação e saio do trem sem conseguir conter o riso. De súbito, porém, paro e penso: de um jeito ou de outro, aquele velhinho caquético está melhor que eu! Se está falando a verdade, ganha de mim porque não ando recebendo metade das doze chamadas diárias de uma jovem interessada; se mente, porque teve atitude e criatividade para inventar essa história em tão pouco tempo e conversar com aquela garota, em vez de que ficar apenas olhando, como eu fiz. É, meus amigos, tenho ainda muito que aprender nessa vida...

Onde está o amor?

Leio o mesmo evangelho que esses cristãos intolerantes e não consigo encontrar uma passagem sequer que me autorize debochar, difamar ou perseguir quem quer que seja. É vergonhoso ver quem já me confessou pessoalmente tantas lutas e pecados, apontando agora o dedo para os outros; é vergonhoso ver os cristãos que não concordam com o rumo da discussão nesse solene silêncio. Falta de inteligência eu até compreendo, mas falta de inteligência e de amor é demais para quem quer dizer-se seguidor de Jesus. Como cristão, minha única escolha é amar; como evangélico, não consigo saber em qual bíblia os demais conseguem achar outra opção que não seja essa.
"E de novo acredito que nada do que é importante se perde verdadeiramente. Apenas nos iludimos, julgando ser donos das coisas, dos instantes e dos outros. Comigo caminham todos os mortos que amei, todos os amigos que se afastaram, todos os dias felizes que se apagaram. Não perdi nada, apenas a ilusão de que tudo podia ser meu para sempre." MST
"Eu acredito na continuidade das coisas que amamos, acredito que para sempre ouviremos o som da água do rio onde tantas vezes mergulhámos a cara, para sempre passaremos pela sombra da árvore onde tantas vezes parámos, para sempre seremos a brisa que entra e passeia pela casa, para sempre deslizaremos através do silêncio das noites quietas em que tantas vezes olhámos o céu e interrogámos o seu sentido. Nisto eu acredito: na veemência destas coisas sem princípio nem fim, na verdade dos sentimentos nunca traídos". MST
"Não é bem uma fuga, mas uma trégua: viver também cansa. Viver, como nós vivemos hoje em dia as relações, é um sufoco ou é um inevitável vazio. 'Antes a solidão, que é inteira', como dizia o Rilke" MST